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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O papel do Pedagogo no processo de Reabilitação de Pacientes com Baixa Visão

Reflexões a respeito da melhoria da Qualidade de Vida

Raquel Rosendo da Silva e Luciana Câmara Fernandes Bareicha


Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo geral descrever o papel do pedagogo relacionado à qualidade de vida, obtido após o processo de reabilitação visual em pacientes com baixa visão. Uma revisão bibliográfica foi realizada na área da reabilitação visual. A pesquisa de cunho qualitativo, se realizou no Hospital CBV - Centro Brasileiro da Visão, um Hospital Oftalmológico privado localizado em Brasília - DF ,com base em entrevistas semi-estruturadas com roteiro flexível em 10 pacientes com baixa de visão devido à DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade). De acordo com as respostas, os autores analisaram a melhoria da qualidade de vida obtida após a estimulação visual em vários aspectos, tais como: acesso a leitura, dificuldade de visão televisiva, capacidade de assinatura, relações sociais, resgate da memória afetiva e independência. Ficou evidente a melhora da qualidade de vida após a reabilitação visual, podendo mostrar a capacidade do pedagogo em reabilitar uma pessoa com deficiência a viver melhor e valorizar o que tem de resíduo visual.

1 - Introdução

O mundo é belo. Magnífico é poder vê-lo: contemplar tal beleza. Logo, a visão é indubitavelmente, muito importante para a qualidade de vida. Por meio da visão é possível sanar a necessidade de compreender o que acontece ao redor, perceber as formas e o colorido das coisas, observar detalhes e interagir-se com o outro facilmente.
Dessa maneira consideramos a necessidade de conhecer a criança ou o adulto, que não consegue desfrutar da sua visão com total potencialidade. A visão ocupa um lugar de destaque em relação ao tato, olfato, paladar e audição, pois, sem ela, os outros sentidos recebem as informações de percepção com maior dificuldade. Os sentidos funcionam de maneira complementar e não isolada. É importante conhecer o indivíduo sem dificuldade visual e aquele que não consegue ver de maneira alguma, entretanto não se pode esquecer aquele que possui baixa visão. Este é, pois, o tema desse trabalho.


Dizemos que uma pessoa tem baixa visão ou visão subnormal, quando os recursos tradicionais, como lentes de contato, óculos comuns, intervenções clínicas e cirúrgicas, não podem lhe dar uma visão nítida. Necessita-se, portanto, de recursos especiais e orientações para que ela realize suas atividades e melhore sua qualidade de vida.
Uma pessoa manifesta baixa visão precisa de um pedagogo que a auxilie em seu desenvolvimento cognitivo. É importante que o educador facilite a aprendizagem do portador de baixa visão, levando-o a conhecer e aprender a usar recursos pedagógicos adequados ao estímulo de sua visão funcional. Muitas vezes, por falta de preparo dos professores, dos familiares e da sociedade, o portador de baixa visão deixa de usufruir de seus direitos, o que dificulta sua inclusão social.

Essa profissional da pedagogia servirá de estimulador para tal pessoa ao lhe mostrar que é possível vencer os obstáculos. O pedagogo aplica conhecimento advindo da sociedade, filosofia, psicologia e técnicas pedagógicas. Ele proporciona ao indivíduo com baixa visão a alegria de aprender, o acesso ao conhecimento e ao mundo.

Spungin, em 1977, mostrou que as áreas de atuação dos pedagogos especializados em deficiências visuais são: Avaliação; Estratégias educacionais e instrucionais; Aconselhamento e orientações; Atividades de supervisão; Conhecimentos tecnológicos; Relação escola-comunidade; Pesquisa (apud CASTRO, 1994, p. 155).

A intervenção pedagógica é de suma importância para a pessoa com déficit de visão. Um professor bem informado poderá auxiliar o crescimento intelectual e profissional destas pessoas, por meio de auxílios ópticos, não ópticos e/ou eletrônicos, todos indicados por oftalmologistas em conformidade com a patologia que provocou a baixa visão. Todos esses recursos necessitam de treinamento para serem utilizados com eficiência a fim de obter o resultado esperado, além de orientações sobre a vida diária.

O professor muitas vezes poderá ser o primeiro a observar problemas visuais em seu aluno, pois o convívio diário na sala de aula o faz constatar dificuldades no aprendizado e na socialização. Ao se perceber isso, encaminha-se o aluno ao especialista, no caso, um oftalmologista, a fim de que se faça um diagnóstico e tratamento precisos e, posteriormente, receba a orientação do pedagogo especializado nas condutas ao processo de socialização e aprendizagem.


2 - Um Pouco de teoria

Em nossa sociedade é possível perceber nos comportamentos de grupos que estabelecem o conceito de pessoas produtivas apenas àquelas que estão dentro dos padrões físicos e psicológicos de “normalidade” (REGEN; ARDORE, HOFFMANN, 1993).

Por esse motivo, nosso trabalho visa mostrar que o acesso à escola, à educação, à cultura e ao mundo deve ser disponibilizado também às pessoas denominadas como deficientes, afinal elas podem vencer o preconceito daqueles, os quais as julgam incapazes de se realizarem como seres ativos e produtivos. Segundo Regen; Ardore; Hoffmann (1993, p. 63):

''Essa fuga da realidade, aliada ao desconhecimento em relação às deficiências, faz com que o preconceito seja uma atitude predominante nas mais variadas camadas sociais. Nem sempre este preconceito é claro e explícito na maioria vezes ele é encoberto por atitudes super protetoras.''

É possível perceber que a exclusão social somada à desinformação de como ensinar à pessoa de necessidades especiais a se desenvolver melhor implicam prejuízos à sua qualidade de vida. No entanto, a Constituição Federal de 1988, em seu capítulo I, Art. 5º define que:

''Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 1988, p. 15).''

Embora existam vários tipos de deficiências, isso, felizmente, não impede aos pedagogos auxiliem no desenvolvimento do portador de baixa visão ou visão subnormal.

Esse é o aspecto que se pretende abordar neste projeto. Para compreendermos melhor esse universo Sá; Campos; Silva (2007) consideram:

''A baixa de visão é complexa devido à variedade e à intensidade de comprometimentos das funções visuais. Essas funções englobam desde a simples percepção de luz até a redução da acuidade visual e do campo visual que interferem ou limitam a execução de tarefas e o desempenho. (SÁ; CAMPOS, SILVA, 2007, p. 16)''

Entende-se que portadores de baixa de visão não são portadores de cegueira total, mas que também não tem uma resposta visual normal dentro das atividades propostas. Sabe-se, claro, que qualquer limitação da capacidade do indivíduo na realização de suas atividades diárias interfere na sua integridade social, cultural e econômica. (SAMPAIO; HADDAD; FILHO; SIALYS, 2010).

Em busca de qualidade de vida, esses sujeitos com baixa visão têm como aliado o pedagogo, profissional da educação que tem influenciado na construção da compreensão do uso de instrumentos indicados para cada especificação conforme considera Castro (1994) a seguir:

''O pedagogo, portanto, é um profissional habilitado a realizar tarefas de avaliação, treinamento e orientação. Desenvolve programas individuais, planejados com base nas condições patológicas, objetivando proporcionar aos deficientes visuais condições de pleno desenvolvimento pessoal e social, para alcançar níveis de atuação consciente e produtiva (CASTRO, 1994, p.155).''

De acordo com Min, Sampaio, Haddad (2001) referem que a genética tem grande influência no desenvolvimento de problemas com a visão e tem como consequência dificuldades que o uso do óculos corretivo não corrigem adequadamente.

Sabe-se que existem vários motivos os quais causaram à pessoa a baixa visão, o que reforça ainda mais o papel do pedagogo como agente facilitador para a aprendizagem ou reaprendizagem do indivíduo com tal deficiência no seu meio familiar, escolar e social.

Segundo Paulo Freire (1999, p. 110), “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”. Esta afirmação conclui-se devido ao grande preparo no atendimento humanizado que o pedagogo recebe e possui, conseguindo intervir e estimular a o portador de baixa visão a superar os obstáculos para que sua educação em todos os aspectos não seja frustrada.

Sampaio; Haddad; Filho; Sialys (2010, p. 359) referem que: A educação do aluno portador de deficiência será mais eficiente quanto melhor for a integração e cooperação entre o aluno, professor de classe comum e professor especializado.

Acredita-se, portanto, que a capacidade e a sensibilidade do pedagogo no exercício de suas tarefas identifica-o como um profissional capaz de levar seu aluno com necessidades especiais a relacionar-se com o mundo, ao proporcionar-lhe o desenvolvimento em diversas áreas. O pedagogo é o elo de inclusão entre o aluno e a vida em sociedade. (CASTRO, 1994).

Entende-se que para um bom atendimento as pessoas com baixa visão é necessário que se realize uma triagem, para saber suas necessidades. Alves; José, (1996, p. 18), referem que: A triagem pode ser definida como uma forma de identificação presumida de defeito ou de doença desconhecida pela aplicação de testes ou realização de exames que possam ser aplicados rapidamente.

Compreende-se que a triagem é o meio que o professor possa realizar em uma sala de aula com a finalidade de orientar e/ou encaminhar os pais a procurarem um oftalmologista para um diagnóstico preciso. O sucesso da triagem visual é fundamental a fim de haver entrosamento entre os pais, os professores e os profissionais da saúde.

Observa-se que o papel do professor em sala de aula é imprescindível. Muitas vezes, ele consegue detectar as dificuldades de seu aluno em ler no quadro ao cerrar as pálpebras na tentativa de ler, ao aproximar o texto de leitura ou afastá-lo, além de poder registrar sintomas como dores de cabeça constantes, tonturas, sonolência de seu aluno após a leitura, torcicolo para leitura (buscando um ângulo melhor para ler). Esses registros são sinais de alerta para se constatar irritação dos olhos (olhos vermelhos e lacrimejantes), dor nos olhos, olhos opacos, com manchas, feridas e o estrabismo (visão cruzada, estrábica) e nistágmo (tremulação involuntária dos olhos).
Entende-se que apenas o portador de baixa visão por conjuntivites bacterianas e virais tenha risco de contágio, por isso nestas duas situações seja difícil a possibilidade se socializar, as demais causas não há risco podendo usufruir de todos os ambientes (JOSÉ; SAMPAIO; OLIVEIRA, 2000).

Os professores desempenham um importante papel no processo de integração da criança com baixa visão, inicialmente preparando a classe para recebê-la e, posteriormente, ajudando-a a se familiarizar com o meio físico e com os colegas e com estímulos visuais ativados das funções visuais. (SÁ; CAMPOS; SILVA 2007).

Entende-se que o sucesso para a realização de uma estimulação visual é necessário que o pedagogo seja orientado quando aos recursos ópticos e não ópticos por um oftalmologista (JOSÉ; SAMPAIO; OLIVEIRA, 2000).

Existem diversos tipos de recursos que pode ser usado pelo paciente de visão que contribuem para uma melhora de sua qualidade de vida, mas é necessário conhecê-los e saber usá-los. Sá; Campos; Silva (2007, p. 19), considera que:

''Recursos ópticos para longe: Telescópio: usado para leitura no quadro negro, restringem muito o campo visual; telessistemas, telelupas e lunetas. Recursos ópticos para perto: óculos especiais com lentes de aumento que servem para melhorar a visão de perto. (óculos bifocais, lentes esferoprismáticas, lentes monofocais esféricas, sistemas telemicroscópicos.''

Compreende-se que a necessidade do uso destes recursos pelo portador de baixa visão em uma sala de aula precisará da compreensão dos professores e dos alunos para que seja utilizado com tranquilidade.

Sá; Campos; Silva (2007, p. 23), orienta que na sala de aula devem ser disponibilizados na medida do possível:
- Iluminação adequada;
- Apoio adequado para leitura e escrita;
- Cadernos com pautas ampliadas;
- Lápis 6B ou 3B;
- Canetas hidrográficas que permitem maior contraste;
- Livros didáticos com tipos ampliados.
- Informa como recursos não ópticos:
- Tipos ampliados (ampliação de fontes, de sinais e símbolos gráficos em livros, apostilas, textos avulso, jogos, agendas, entre outros).
- Acetato amarelo: diminui a incidência de claridade sobre o papel.
- Plano inclinado: carteira adaptada, com a mesa inclinada para que o aluno possa realizar as atividades com conforto visual e estabilidade da coluna vertebral.
- Tiposcópios (guia de leitura), gravadores.
Softwares com magnificadores de tela e Programas com síntese de voz.
- Chapéus e bonés: ajudam a diminuir o reflexo da luz em sala de aula ou em ambientes externos.

Entende-se que a utilização destes recursos poderá ser feita pelo professor do ensino regular com o auxílio e a orientação do professor especialista em deficiência visual, para uso dentro e fora de sala de aula, conforme a necessidade.
Felippe; Felippe (1997, p 25), ressaltam que “... o aprendizado é um processo contínuo que se estende por vivências além dos limites da sala de aula ou de atendimento.”

Castro (1994, p.158-159) demonstra uma sequência do treinamento visual:

1 - Explicar ao paciente as características do auxílio, denominação, tipo de utilização, distância de trabalho (distância entre o auxílio e o material), profundidade de foco, campo de visão e vantagens e desvantagens.

2 - Avaliar o desempenho visual conforme a tarefa:
Rendimento de leitura – usar apoio para o material de leitura, iluminação adequada, ler em voz alta, devendo o pedagogo anotar o tamanho do impresso.
Entende-se que nesta avaliação o pedagogo poderá verificar a velocidade da leitura, de acordo com o tamanho da letra podendo mostrar a sua dificuldade e posteriormente a sua evolução.

3 - Treinar com Base na Avaliação inicial e no tipo de tarefa:
Leitura de perto ou de longe, localização da imagem a ser visualizada (ensinar a encontrar o início da linha e a movimentar o material de leitura, escrutinização, ensinar a encontrar determinada palavra num texto, ler colunas).
Em revistas ou jornais, etc. Usando simultaneamente os auxílios não ópticos como tiposcópio, iluminação, contraste, etc.

4 - E a escrita, utilizando-se para treinamento os materiais especiais como canetas de ponta porosa, papéis com pautas ampliadas, tiposcópios para escrita e assinatura além de modos a manter a boa postura do paciente.

5 - Orientar o paciente nos seus afazeres do dia-a-dia. Conforme a tarefa a ser executado, o pedagogo deve proceder ao treinamento da forma mais pragmática possível. Exemplificando: uma senhora, nas atividades de bordado e costura, deve ser treinada com seu material pessoal e receber instruções sobre materiais adaptados e auxílios não ópticos, como utilização de contraste.
Ele conclui que o pedagogo por integrar uma equipe interdisciplinar, coopera com seus membros, no processo reabilitacional, informando-os sobre a função visual de seus pacientes e fornecendo dados e instruções fundamentais para o planejamento de programas individualizados. Felippe; Felippe, (1997, p. 87) consideram que:

''O professor também deve estar consciente para a maleabilidade na correção ou orientação dessas condutas. Deve-se levar em consideração a tolerância aceitável para algumas situações que envolvam aspectos educacionais, culturais e regionais da pessoa.''

Entende-se que o pedagogo sendo um profissional que ensina ao paciente portador de baixa visão a se readaptar-se através da estimulação visual conseguindo, além de uma inclusão social uma melhora na qualidade de vida, por poder novamente proporcionar através de suas orientações e técnicas, mostrar suas potencialidades e superações em seus afazeres em geral, melhorando a sua autoestima.


3 - Análise de Dados

Tendo em vista o objetivo principal desta pesquisa que é descrever o papel do pedagogo no processo de reabilitação visual, foram coletados dados através da pesquisa de cunho qualitativo, e como instrumento de coleta de dados foi aplicada uma entrevista para dez pacientes do Centro Brasileiro da Visão, sendo todos pessoas com baixa visão, com objetivo de coletar as informações sobre a temática proposta.

Conforme a coleta de dados, 100% dos pacientes consideram importante o papel do pedagogo no processo de sua reabilitação visual, relatando fatores de competência, atenção, orientação, aprendizado, conhecimento e informações sobre sua função visual e na readaptação visual. O sujeito 3 diz: “ela me ensinou a ler outra vez, eu reaprendi a leitura, é movimentar a cabeça, encaixar, procurar o foco, isso ai foi muito importante e orientador para que eu pudesse retomar minha função de leitura. É ensinar de novo. É reaprender”.

Pessoas com visão subnormal apresentam sintomas de dificuldades de visão para longe e/ou perto sendo importante reconhecê-la. O que vai ao encontro de Sá, Campos, Silva (2007): A baixa de visão é complexa devido à variedade e à intensidade de comprometimentos das funções visuais.

Essa teoria foi confirmada, através dos resultados de 50% dos sujeitos, informando que sua visão era pior para longe e perto, antes do início do treinamento. 30% dos sujeitos da pesquisa que sua visão pior era para perto e 20% que a visão pior era somente para longe, como exemplificada pelo sujeito 8 “Sei que é pra ver coisas pequenas que eu tenho dificuldade e para longe eu tenho mais dificuldade porque a visão fica muito cortada, é difícil explicar”.

Notamos que uma das maiores queixas dos pacientes com baixa visão é a dificuldade em ler, o que interfere na qualidade de vida, pois é algo que poderia nos proporciona prazer e conhecimento. Relatou o sujeito 9 "mas agora não, vejo o letreiro do ônibus, então facilitou muito minha vida, ganhei independência. Independência é a verdade.”

O pedagogo em seu treinamento visa trabalhar no sentido desta melhora da leitura através de exercícios visuais com o uso de recursos ópticos e não-ópticos para leitura de revistas ou jornais (CASTRO, 2007).

De acordo com a coleta de dados 100% dos pacientes revelam que sentiram melhora no acesso a leitura, sendo 60% para leitura para perto, como jornal, revistas e 30% em ler para longe e letras grandes e 10% com um percentual de melhora abrandada, como relata o sujeito 3 “Voltei a ler a revista Exame, antes tava recebendo nem abria a revista, porque não tinha muita estimulação e nem conseguia ler”.

Essas funções englobam desde a simples percepção de luz até a redução da acuidade visual e do campo visual que interferem ou limitam a execução de tarefas e o desempenho (SÁ, CAMPOS, SILVA, 2007).

Apesar da baixa de visão é possível a superação de limitações para que não se perca o contato com a vida em sociedade e deixar de participar de seus direitos como cidadãos. Em nossa coleta de dados confirmamos que 60% dos entrevistados melhoraram sua dificuldade da visão televisiva e da capacidade de assinatura e 40% informam que não sentem essa dificuldade. O sujeito 10 relata “(…) a televisão melhorou bastante também por conta que eu já sei focar” e sobre a melhora na escrita o sujeito 1 respondeu “Hoje depois desta reabilitação eu já consigo escrever até sem aquele papelzinho que eles dão pra gente. Sai reto, sai legal”.

Segundo Paulo Freire (1999, p. 110), “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”. Na qualidade de vida outros fatores que interferem são a afetividade, relação social e diversão. Relatos de 50% após as estimulações visuais fizeram novos cursos e 50% continuam tendo as mesmas atividades, conforme o sujeito 5 “Eu fiz o curso de computador para analfabetos, eu era analfabeto em computador”.

Relatos sobre a afetividade conforme o sujeito 6 “Não tenho duvida, a gente fica mais apta a conviver com as pessoas. Sobre aspectos da diversão encontramos relatos do sujeito 3 ”eu estava com muita dificuldade para dirigir, eu não conseguia ver a parte do veículo da frente, então eu segurei um pouquinho, depois voltei a dirigir.

Outro aspecto que interfere na qualidade de vida é o reconhecimento de fisionomias nos grupos sociais, 50% relatam que além de tudo visualizam melhor as fisionomias das pessoas, 40% que não sentiram a mudança e 10% não responderam. Este aspecto relata algo de grande importância na vivência dos sujeitos quanto o resgate da memória afetiva em relação às pessoas de seu apresso conforme sujeito 2: “para ver as pessoas de casa, vejo melhor” e do sujeito 9 “Mas agora dá prazer quando a gente sai porque vê melhor, porque as vezes as pessoas falavam comigo e eu não sabia quem era, era preciso chegar muito perto, ou então nem muito perto dava pra ver, mas graças a Deus ta bem melhor.”

Apesar das dificuldades que ainda não foram sanadas totalmente na visão subnormal, entende-se que a reabilitação visual reflete grandemente na qualidade de vida destas pessoas, que após persistência e disciplina do treinamento oferecido pelo pedagogo, eles colhem resultados, como relata o sujeito 5 “Melhora a visão, melhora sempre a qualidade de vida”.

Esta forma de abordagem vai ao encontro de Sampaio; Haddad; Filho; Sialys (2010, p. 359) refere que: “A educação do aluno portador de deficiência será mais eficiente quanto melhor for a integração e cooperação entre o aluno e o professor.”

Diante dos dados aqui expostos, ficou evidente a melhora da qualidade de vida após a reabilitação visual, podendo mostrar a capacidade do pedagogo em reabilitar uma pessoa com deficiência a viver melhor e valorizar o que tem de resíduo visual.


4 - Considerações Finais

O papel do pedagogo se amplia com a complexidade humana e a diversidade de ações sociais que visam a melhoria da vida da população, especificamente relacionada a educação brasileira.

No nosso trabalho de pesquisa constatamos que o papel do pedagogo é reconhecidamente percebido como importante para a reabilitação visual ao perceberem que o profissional da pedagogia desempenha a função educacional com competência particular que abrange a orientação, capacidade de despender a atenção necessária ao processo de reabilitação bem como tem o conhecimento necessário (com a formação indicada em treinamentos anteriores) que alia a informação e processo de ensino-aprendizagem.

As dificuldades na leitura foram apontadas como queixa que interfere diretamente no dia a dia dos sujeitos pesquisados como mecanismo que, em revertendo essa dificuldade, poderia ampliar os horizontes de comunicação social e consequentemente usufruir de informações que transitam na nossa sociedade necessárias para o convívio social atualizado ao que diz respeito ao que acontece no mundo contemporâneo. Para nosso deleite, o trabalho desenvolvido pela pedagoga foi considerado com resultados de melhoria na questão da leitura por 70% dos sujeitos (em diferentes dimensões, com jornal, revistas, letras grandes) considerado resultado relevante na nossa perspectiva.

Outras habilidades foram recuperadas, no sentido da melhoria da qualidade de vida em função da atividade de reabilitação com o pedagogo como as dificuldades da capacidade de assinar, reestruturando o sentido de identidade dos sujeitos ao retomarem essa capacidade que desempenha a cidadania nos seres humanos, bem como a possibilidade de melhorar a sua forma de utilização da visão televisiva, hoje comunicação essencial na maior parte dos grupos sociais do nosso país.

Ressaltamos que esse trabalho favoreceu a qualidade de vida dos sujeitos que participaram de maneira ampla e com repercussões desconhecidas quando a mudança de comportamentos foram constatados ao se reconhecerem cidadãos com direitos e deveres que podem experimentar processos de convívio social antes não considerados “aptos” pelos próprios sujeitos quando retomaram cursos, o convívio com grupos de envolvimento afetivo significativos e a capacidade de dirigir que retrata a “liberdade” de ir e vir com consequências para a autoestima de qualidade importante e marcante na vida dessas pessoas.

A memória afetiva está relacionada a condição de poder ver melhor a fisionomia das pessoas e dessa maneira poder reconhecer os seus pares de maneira clara e com menos insegurança, o que poderia ocorre antes da reabilitação visual. É significativa a importância de dar ao sujeito a possibilidade de melhorar a sua forma de se comunicar com as outras pessoas reconhecendo a memória visual associada a memória dos afetos ligados aos reconhecidos, antes “desconhecidos”.

Essas repercussões estão associadas às relações afetivas, a possibilidade de vínculos de prazer social e permanência nos grupos da sociedade com laços de aprendizagem e de desenvolvimento em todos os setores da vida das pessoas com baixa visão.

Conclui-se que o papel do pedagogo nesta área de atuação é de grande relevância, pois através de sua orientação e capacidade, pode ajudar na reabilitação de pessoas portadoras de baixa visão ao auxiliar essas pessoas a conviver socialmente, apesar das limitações visuais. Percebe-se que através de seu conhecimento advindo da sociedade, filosofia, psicologia e técnicas pedagógicas, o pedagogo pode estimular o indivíduo a valorizar as qualidades humanas específicas de cada pessoa por intermédio da aprendizagem e assim continuar a fazer parte do mundo que vive, vivendo com qualidade de vida.


5 - Referências Bibliográficas:

ALVES, Milton Ruiz; JOSÉ, Newton Kara. O olho e a visão – O que fazer pela saúde ocular das nossas crianças. Ed. São Paulo, 1996.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nºs 1-92 a 32/2001 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nºs 1 a 6/94. _Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2001.

CASTRO, Claudio de Moura. A prática da pesquisa. 2º Ed. - São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

CASTRO, Danilo D. Monteiro de. Biblioteca Brasileira de Oftalmologia - Visão subnormal. Rio de Janeiro. Ed. Cultura Médica, 1994.

FELIPPE, João Álvaro de Moraes; FELIPPE, Vera Lucia Rhein. Orientação e Mobilidade. São Paulo. Ed. Laramara, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia de autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

JOSÉ, Newton kara; SAMPAIO, Marcos Wilson; OLIVEIRA, Regina Carvalho de Salles. Entendendo a baixa visão – orientação aos professores. Brasília – DF. MEC, 2000.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para Elaboração de Monografias e Dissertações. 3ª Edição _ São Paulo: Atlas, 2010.

MIN, Hsu Yun, SAMPAIO, Marcos Wilson, HADD, Maria Aparecida Onuki. Baixa Visão: Conhecendo mais para ajudar melhor. São Paulo: Ed. Laramara, 2000.

REGEN, Mina; ARDORE, Marilena; HOFFMANN, Vera Maria Bohner. Mães e filhos Especiais – Relato de experiências com grupos de mães de crianças com deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência- CORDE, 1993.

SÁ, Elizabet Dias; CAMPOS, Izilda Maria de, SILVA; Myriam Beatriz Campolina. Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Visual. - São Paulo: MEC/SEESP, 2007.

SAMPAIO, Marcos Wilson; HADDAD, Maria Aparecida Onuki; FILHO, Helder Alves da Costa; SIALYS, Mara Olímpia de Campos. Baixa visão e cegueira: os caminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2010.


Matéria Publicada no Portal da Oftalmologia

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